Márcio Ribeiro, 27 anos, atualmente é editor de imagens na TV Jornal, do Sistema Jornal do Comércio de Comunicação. Empresa filiada ao Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), no Recife. Filho de mãe solteira, não alfabetizada, que mesmo sem trabalho, assumiu sozinha a responsabilidade de criar e educar seus cinco filhos, Marcio enfrentou a família para poder estudar. Hoje, é o único da família que possui curso superior, enquanto seus irmãos, nem o ensino médio concluíram. Criado a partir de uma educação rigidamente machista, desde cedo aprendeu a necessidade de trabalhar.
Passou pela infância sem vivê-la e nem percebeu. Nesta fase, ao invés de brincadeiras e diversão, trabalhava com a mãe na roça, nas fábricas de farinha de mandioca, no corte de cana-de-açúcar dos engenhos. Forçado pelo trabalho infantil, Marcio chegou a carregar sacos de 50 kg de farinha de mandioca na cabeça, em troca de alguns centavos para ajudar a mãe. Os estudos perdiam espaços para o trabalho ajudando a mãe e os irmãos na árdua missão de conseguir, no mínimo, os poucos mantimentos que lhe assegurassem viver.
Marcio, aos 14 anos, com o amadurecimento forçado e precoce, decidiu mudar de vida. Prometeu para si mesmo, que não iria mais pedir escolas nas ruas e que os calos nas pequenas mãos, em consequência do trabalho na roça, seriam substituídos por tintas e cores. Começou a frequentar aulas do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil e sua participação lhe garantiu uma ajuda financeira, do governo federal, para sua família. E a partir de então, inspirado em outras crianças ele resolveu que iria aproveitar as oportunidades e construir uma vida melhor para ele e sua família.
Em 2007, Marcio entrou no Giral. Menino tímido, de cabeça baixa e não conseguia olhar nos olhos das pessoas. Seu rosto era escondido atrás da aba de um boné que usava, diariamente, durante as aulas. A entrada no projeto não foi aprovada pela família, pois na época ele trabalhava raspando mandioca, numa fábrica de farinha de mandioca. Com sua ausência em um trabalho onde o ganho era calculado pela produção a família perdia muito. O trabalho que seguia pela madrugada, impossibilitava sua participação no projeto e Marcio quase desistia.
Além da necessidade de trabalhar, sua família não acreditava que filho de pobre mudaria de vida. Pediam para ele desisti, pois muitos tentavam e não conseguiam. Mas ele os enfrentou e continuou no curso. E hoje ele afirma que o projeto transformou sua vida. “Tudo era novo e encantador. Quando comecei a usar os equipamentos me apaixonei e disse: é isso que quero para minha vida”, revela.
A partir de 2007 o Giral se tornou sua casa e para isso, todos os dias enfrentava a descrença familiar. Os cursos acabam e ele continua frequentando a Organização. Em 2009, fez um curso de produção audiovisual avançado, como continuidade do projeto e começou a colher frutos de sua persistência no caminho da realização de sonhos.
Foi convidado para compor a equipe da Secretaria de Juventude de Lagoa de Itaenga, em 2012, assumiu a função de educador de edição de imagens no curso de Agente de Desenvolvimento da Comunicação no Giral e começou a ajudar a família. Entrou no curso de Gestão em Rádio e TV, numa faculdade particular e começou a estagiar como designer gráfico, na Prefeitura de Glória do Goitá.
Em 2014, já formado, prestou serviço para a TV Nova Nordeste, no Recife. Em seguida, foi selecionado para compor o quadro de profissionais do Sistema Jornal do Comércio de Comunicação. Empresa que atua até hoje. “O GIRAL sempre me apoiou e me contemplou com dupla oportunidade: fui aprendiz e educador. Pela Organização tive a oportunidade de atuar e viajar para vários estados do Brasil. Não sei o que seria de mim, se não tivesse passado pelo Giral”, expos.
Segundo ele, a família morava em um quartinho apertado e enfrentaram muita fome na luta pela vida. “Não tinha dinheiro pra nada, roupas e calçados eram doados por conhecidos ou quando pedíamos esmolas nas ruas”. Pela situação, ele entrou atrasado na escola. Os materiais didáticos eram reaproveitados e muitas vezes, pela falta de calçados, frequentou a escola com os pés no chão. Até hoje, ele pensa na vida com muita humildade. Mas, muitos sonhos, inclusive os de “andar” nos parques de diversão e comer os deliciosos doces das festas no interior, já foram realizados.